Publicado em 08/12/2016
Adolescentes criam na escola versão barata de remédio que empresário aumentou em 5.000%
Australianos sintetizaram o princípio ativo de fármaco capaz de salvar vidas, ao custo de apenas US$ 20, 'desmentindo' controverso Martin Shkreli.
Adolescentes australianos conseguiram sintetizar 3,7 gramas do princípio ativo do Darapim por US$ 20
Há pouco mais de um ano,
Martin Shkreli, de 33 anos, recebeu vários apelidos pouco elogiosos nos Estados
Unidos e no mundo. Foi chamado de símbolo "de tudo de ruim que existe no
capitalismo", "sociopata moralmente falido" e "o homem mais
odiado do país", por exemplo.
Em agosto de 2015, a empresa farmacêutica dirigida por ele, a Turing Pharmaceuticals, elevou em mais 5000% o preço de um medicamento para pessoas com sistema imunológico
debilitado.
Segundo as informações
divulgadas na época, o aumento de US$ 13,50 (R$ 46) para US$ 750 (R$ 2550) por
comprimido do Daraprim, que custa US$ 1 para ser produzido, justificava-se por
ser um produto altamente especializado e com uma margem de lucro pequena. Em
países como a Austrália e o Reino Unido, a droga é vendida por US$ 1,50 por
comprimido.
Nesta semana, um grupo
de adolescentes australianos provou que Shkreli, um ex-gerente de fundos de
investimentos, não foi totalmente honesto - algo considerado por alguns médicos
como "humilhante" para o empresário.
Nos EUA, a mesma
quantidade custaria mais de US$ 110 mil.
"Não foi muito
difícil, mas suponho que esse é justamente o ponto, porque somos
estudantes", disse à BBC um dos adolescentes, Charles Jameson.
De fato, o objetivo do
experimento de um ano foi justamente demonstrar o custo inflado do medicamento
nos Estados Unidos.
"Parecia algo
totalmente errado moralmente e sem justificativa", disse outro estudante,
James Wood. "É um medicamento que pode de salvar vidas, e muitas pessoas
não podem pagar por ele."
Desenvolvido nos anos 1950, o Daraprim é
usado para tratar a toxoplasmose, uma enfermidade infecciosa causada por um
protozoário encontrado nas fezes de felinos e que afeta pacientes com sistema
imunológico debilitado, como quem sofre de Aids e malária, e pacientes que se
submetem à quimioterapia, além de algumas gestantes. É uma doença
potencialmente fatal.
"Se estudantes
conseguiram sintetizar a substância a custo tão baixo, não há desculpa para que
se cobre tanto dinheiro pelo medicamento", diz Alice Williamson, química
da Universidade de Sydney que orientou o trabalho dos estudantes.
O empresário americano,
porém, desdenhou dos resultados, dizendo que "é fácil produzir uma pequena
quantidade" da droga.
"Eu deveria usar
escolas para fazer meus medicamentos", escreveu ele em sua conta no Twitter.
"Para que comprar
equipamentos, se posso usar os laboratórios de ciências de graça. E os
professores que ajudaram as crianças trabalharam de graça, certo?",
ironizou.
"O custo é
injustificável para pacientes vulneráveis que precisam do medicamento e
insustentável para o sistema de saúde", disse o grupo no documento.
Shkreli defendeu a
política de preços, dizendo que o valor de fabricação não incluia outros
custos, como marketing e distribuição, que teriam aumentado drasticamente nos
últimos anos. E que a receita obtida seria usada em pesquisas de novos
tratamentos para a toxoplasmose.
"Precisamos ter
lucro com essa droga. Antes de nós, as empresas estavam praticamente dando-a de
graça", afirmou ele à época, em entrevista à emissora Bloomberg.
A Turing acabou cedendo
e baixou o valor para US$ 375, "um nível mais acessível e que permite à
companhia ter lucro, ainda que pequeno". Só que o preço ainda é 2.500%
maior que antes do aumento.
Em dezembro de 2015, o
empresário pediu demissão do cargo após ser preso por uma suposta fraude em uma
das empresas em que havia trabalhado. Ele irá a julgamento em 26 de junho.