Publicado em 09/06/2017
Pesquisa revela que população da Cracolândia cresceu 160% em um ano
Levantamento divulgado pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social mostra ainda que presença de mulheres no fluxo de usuários de drogas dobrou entre 2016 e 2017.
Usuários vagam pelas ruas após a operação da polícia na Cracolândia em maio.
SÃO PAULO - Levantamento do perfil de usuários de drogas da
Cracolândia divulgado nesta quinta-feira, 8, pela Secretaria Estadual de
Desenvolvimento Social revela que a população do antigo fluxo de dependentes
químicos no chamado "Quadrante Helvétia", na região da Luz, mais do
que dobrou em um ano.
Os dados mostram que a média de usuários de drogas no fluxo
subiu de 709 pessoas em abril de 2016 para 1.861 pessoas em maio deste ano, um
aumento de 160%. A contagem feita entre os dias 3 de abril e 13 de maio deste
ano, uma semana antes da operação policial que prender traficantes e dispersou
os usuários na região central.
A Guarda Civil Metropolitana (GCM) chegou a monitorar 22
grupos de viciados espalhados pela região central da capital. A maior
concentração ocorre na Praça Princesa Isabel, no bairro Campos Elíseos, que
virou a nova Cracolândia, com até 900 dependentes acampados, segundo estimativa
da Secretaria Municipal de Assitência Social.
A pesquisa divulgada nesta quinta-feira foi realizada em
consultoria com o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) e
entrevistou 139 pessoas nos períodos comparativos entre abril e maio de 2016 e
abril e maio de 2017.
O levantamento mostra que o porcentual de mulheres que
frequentavam a Cracolândia até a operação policial de maio dobrou em um ano, de
16,8% em 2016 (119 mulheres), para 34,5% em 2017 (642 mulheres). Segundo a
pesquisa, 14,3% das mulheres estavam grávidas no momento da entrevista e mais
da metade da população feminina da Cracolândia que já engravidaram nunca
quiseram fazer pré-natal. Em gestações anteriores, as mulheres referiram
diversos problemas, como filhos abaixo do peso (100%), filhos prematuros (67%),
abortos (21%), natimortos (21%) e UTI (21%).
O estudo mostra ainda que 44,1% das mulheres sofreram algum
tipo de abuso físico/sexual na infância; 70,6% referiram já ter sofrido
violência física na Cracolândia; e 40% fizeram uso de drogas injetáveis. Entre
homens e mulheres, 44,21% disseram que conflitos familiares, como perdas,
divórcios, violência e abandono os levaram para a Cracolândia.
Na pesquisa, 44% referiram realmente querer parar o uso de
drogas. Análises de estatísticas mostraram que o fator mais associado com a
motivação de interromper o uso é ter histórico de outros tratamentos. Os
pesquisadores não ouviram dependentes que estavam usando crack no momento da
abordagem, sob o pico do efeito do crack, desacordados ou apresentando
comportamentos agressivos.
O levantamento do perfil dos usuários de drogas da
Cracolândia revela que grande parte dos entrevistados não possuem ensino médio
completo, porém a proporção de usuários com ensino superior aumentou entre 2016
e 2017. A pesquisa também mostra que nem todos os frequentadores da Cracolândia
são usuários de crack, com 15% de alcoolistas e 13% que referiram não usar
nenhuma das substâncias.
Entre os dependentes químicos da região, mais da metade (66,4%) nunca estiveram em situação de rua antes de usar drogas; 74% estavam em suas casas ou de familiares antes de ir para a Cracolândia; 42% referiram não ter com quem contar em situação de emergência e, dos que possuem, 57,6% referem só poder contar com a própria família.