Publicado em 21/06/2017
MPF denuncia Henrique Alves e Eduardo Cunha por corrupção passiva e lavagem
Segundo a investigação, os dois ex-presidentes da Câmara teriam recebido propinas disfarçadas de doações eleitorais. Também são acusados na denúncia ex-presidente da OAS e outros 3.
Os peemedebistas Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves.
Ministério Público Federal (MPF) do Rio Grande do Norte
denunciou na noite desta terça-feira (20) os ex-presidentes da Câmara dos
Deputados Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ) por
prática continuada dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Os dois ex-deputados – que estão presos – são acusados pelos
procuradores da República de terem recebido propinas disfarçadas de doações
eleitorais, oficiais e não oficiais, entre 2012 e 2014. Em troca do suborno,
afirma o MPF, eles teriam atuado para favorecer empreiteiras como OAS e
Odebrecht nas obras da Arena das Dunas, em Natal, uma das sedes da Copa do
Mundo de 2014.
Além dos dois peemedebistas, o MPF também denunciou, no
mesmo processo, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, o ex-dirigente da
Odebrecht Fernando Reis e mais duas pessoas supostamente ligadas a Henrique
Alves, que foi ministro do Turismo nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer.
Os outros dois denunciados pelo MPF no processo da Manus são
Carlos Frederico Queiroz Batista da Silva, aliado político de Henrique Alves, e
o publicitário Arturo Silveira Dias de Arruda Câmara, cunhado do ex-ministro do
Turismo.
Os seis foram investigados pela Operação Manus, um
desdobramento da Lava Jato. A denúncia, de 89 páginas, pede que os acusados
sejam, ao final da ação, condenados ao pagamento de R$ 15,5 milhões por danos
materiais e morais para ressarcir os crimes que cometeram.
Para virar ação penal, a denúncia precisa ser recebida pela
Justiça Federal do Rio Grande do Norte. Não há previsão de quando o juiz
responsável pelo caso irá analisar a acusação do MPF.
Crimes continuados
O Ministério Público quer que Eduardo Cunha – que está preso
em Curitiba desde outubro em razão de investigações da Lava Jato – responda por
11 crimes de corrupção passiva e 11 operações de lavagem de dinheiro na
denúncia da Manus. O deputado cassado já foi condenado pelo juiz federal Sérgio
Moro a 15 anos de prisão por crimes relacionados ao esquema de corrupção que
atuava na Petrobras.
Já Henrique Alves – que está detido em Natal – é acusado
nesta denúncia de ter cometido 12 crimes de corrupção passiva e 12, de lavagem.
Um dos delatores da Lava Jato, Léo Pinheiro foi acusado
pelos procuradores da República de ter cometido sete vezes o crime de corrupção
ativa e oito o de lavagem de dinheiro.
Ex-presidente da Odebrecht Ambiental, Fernando Reis é
acusado de um crime de corrupção ativa e um, de lavagem. No entanto, como o
ex-dirigente da Odebrecht também fechou delação premiada com a Lava Jato, o MPF
quer que a pena dele seja substituída pelas punições prevista no acordo
homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Carlos Frederico Silva é acusado pelos procuradores da
República de lavagem de dinheiro e de integrar organização criminosa.
Cunhado de Henrique Alves, Arturo também foi denunciado por
lavagem e organização criminosa.
Henrique Alves, Eduardo Cunha, Léo Pinheiro e Fernando Reis
não foram denunciados por organização criminosa, segundo o MPF, porque já são
investigados ou respondem pelo mesmo crime em outras instâncias.
Os procuradores pediram à Justiça Federal do Rio Grande do
Norte para que a ação penal seja aberta e que sejam ouvidos como testemunhas de
acusação diversos delatores da Lava Jato, como, por exemplo, o empresário
Marcelo Odebrecht.
O que dizem os acusados
O advogado Pedro Ivo, que defende Eduardo Cunha, afirmou que
ainda não teve acesso à denúncia. O defensor, entretanto, ressaltou que o
deputado cassado "nega peremptoriamente" as acusações.
Responsável pela defesa de Henrique Alves, o criminalista
Marcelo Leal disse que não vai se pronunciar porque ainda não teve acesso à
denúncia.
O criminalista Artêmio Azevedo, que está à frente da defesa
de Arturo, destacou que, na visão dele, "estão distorcendo os fatos"
como se os valores recebidos pelo cliente dele fossem para lavagem de dinheiro.
"O serviço foi prestado. Ele é um publicitário
reconhecido e toda ligação que Arturo tem com a campanha de 2014 é tão somente
de trabalho publicitário realizado na campanha. O que a gente vai demonstrar é
que o serviço foi efetivamente prestado, e nós temos muitas prova, notas
fiscais, documentos e vamos apresentar tudo isso nos autos”, declarou o
advogado.
Até a última atualização desta reportagem, o G1 ainda não
havia conseguido localizar os defensores dos outros três denunciados.
Arena das Dunas
De acordo com a denúncia do MPF, Eduardo Cunha e Henrique
Alves atuaram em conjunto com empreiteiros, entre 2012 e 2015, em Brasília, Rio
de Janeiro, São Paulo e Natal.
Os procuradores da República relatam na peça judicial que os
dois peemedebistas formaram um "grupo criminoso", com divisão de
tarefas, principalmente com Léo Pinheiro e Fernando Reis.
A investigação do Ministério Público aponta que o objetivo
do "grupo criminoso" liderado por Cunha e Alves era "obter vantagem
financeira das empresas mediante doações eleitorais oficiais e não
oficiais". Em troca, ofereciam aos empresários atuação em favor dos
interesses das empreiteiras, "praticando crimes de corrupção e lavagem de
dinheiro".
"No comando do grupo, formando seu núcleo político,
encontravam-se os ex-deputados federais [Alves e Cunha], que recebiam propina e
atuavam em favor de empreiteiras; em nível intermediário, formando o núcleo
econômico do grupo, situavam-se os empresários e executivos representantes de
empreiteiras, que pagavam propina e eram contempladas com favores dos então
parlamentares; em instância inferior, compondo o núcleo financeiro ou
operacional, localizavam-se os responsáveis pelo aperfeiçoamento do processo de
lavagem do dinheiro ilícito, por meio de prestações de contas em campanhas
eleitorais", diz trecho da denúncia.
De acordo com a acusação, as doações oficiais e não oficiais
totalizaram 11,5 milhões aos dois ex-deputados do PMDB.
A denúncia destaca ainda que, em 2013, o ex-ministro do
Turismo solicitou que a OAS repassasse ao menos R$ 4 milhões aos clubes de
futebol potiguares ABC e América de Natal. Conforme o MPF, a empreiteira
desembolsou R$ 2 milhões para cada uma das agremiações esportivas para fechar
contratos de utilização da Arena das Dunas.
As doações oficiais aos dois ex-presidentes da Câmara,
observa outro trecho da denúncia, foram feitas por meio do diretório nacional
do PMDB e do diretório do PMDB no Rio Grande do Norte, dentro e fora do período
eleitoral.
Em contrapartida, ressaltam os procuradores da República,
Cunha e Alves atuaram em vários interesses da OAS: mudanças para evitar
restrição à participação da empresa na privatização dos aeroportos do Galeão e
de Confins; rolagem de dívida com o município de São Paulo; superação de
entraves para financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) na Arena das Dunas.
Sobre a Odebrecht, a denúncia aponta promessa de
privatização da Companhia de Água e Esgoto do Rio Grande do Norte (CAERN). A
Odebrecht Ambiental, empresa que, à época, era presidida por Fernando Reis,
pagou propinas a políticos, em diversas regiões do país, para garantir a
privatização de serviços de água e esgoto.
Campanha de Alves
A acusação do MPF afirma que Carlos Frederico Silva e Arturo
Câmara usaram a campanha de Henrique Alves ao governo do Rio Grande do Norte,
em 2014, como "mecanismo de lavagem de dinheiro proveniente do crime de
corrupção passiva".
Os procuradores relataram na denúncia que, em meio à disputa
eleitoral potiguar, foram utilizadas empresas familiares, empresas de aliados
políticos e empresas de fachada (sem existência de fato e constituídas em nome
de “laranjas”) para "justificar, ocultar e dissimular", na prestação
de contas eleitoral, a utilização de recursos de origem e destinação ilícitas.
Ainda de acordo com os investigadores, o dinheiro foi usado
"em proveito pessoal", para "compra de votos e de apoio
político" pela campanha a governador do ex-deputado.
Os procuradores apontaram ainda "significativa soma de
valores sacados em espécie", além de transferências para políticos ou
pessoas politicamente relacionadas. Para o MPF, essas movimentações financeiras
evidenciam "ilicitude" não só na obtenção de doações eleitorais, mas
também em despesas de campanha".
Mensagens com empreiteiros
Conforme o MP, diversas mensagens apreendidas nos celulares
dos investigados na Operação Manus revelam como Eduardo Cunha e Henrique Alves
atuavam em favor dos interesses das empresas.
Em um dos exemplos, Léo Pinheiro mandou mensagem para
Eduardo Cosentino da Cunha solicitando confirmação sobre a aprovação da rolagem
da dívida pública de São Paulo, e o Deputado Federal respondeu: “Sim” e
“Aprovamos”.
Outra mensagem entre Henrique Alves e Léo Pinheiro revela a
atuação do ex-deputado, que se compromete a ir "para cima" do TCU
para verificar os interesses da OAS. "Seg, em BSB, vou pra cima do TCU.
Darei notícias!”.