Publicado em 05/07/2017
A dificuldade natural que torna algumas pessoas menos propensas a praticar exercício
Há quem seja mais 'preguiçoso' por ter predisposição genética ao sedentarismo, segundo especialistas.
Muita gente não consegue manter uma rotina de exercícios físicos - no Brasil, 46% da população é sedentária.
Se você é uma das pessoas que têm dificuldades em praticar
exercício físico com frequência, existe a possibilidade de que não seja falta
de força de vontade - mas sim culpa de características inatas.
Não é uma mera casualidade o fato de tanta gente - 46% da
população brasileira, por exemplo - não praticar nenhum exercício físico, mesmo
ciente dos tantos benefícios que a prática traz para a saúde e o ânimo em
geral.
"Por experiência, isso se deve a uma condição ou
predisposição genética ligada ao somatótipo (tipo físico) de cada pessoa",
explicou à BBC Juan Francos Marco, especialista em Ciência do Esporte.
"Para alguém endomorfo (que tem dificuldade em perder
gordura e ganha peso fácil) é muito mais difícil realizar qualquer atividade física
do que para pessoas ectomorfas (de pouca gordura no corpo) ou mesomorfas (com
corpo atlético), e isso faz com que tenham mais predisposição a levar uma vida
mais preguiçosa. Quando fazem exercício, é mais por recomendação médica."
Ancestrais
Para o professor David Lieberman, especialista na evolução
biológica do ser humano, a explicação pode remontar inclusive aos nossos
ancestrais.
Em uma pesquisa em 2015, o professor de Harvard mostrou como
nossos antepassados tinham a tendência de repousar e guardar energia quando não
eram obrigados a submeter o corpo a exigentes jornadas de caça e longos
deslocamentos.
"É natural e normal ser fisicamente fraco", diz
Lieberman.
"Nosso instinto sempre foi o de economizar energia.
Durante a maior parte da evolução humana, isso não era importante, porque se
você quisesse colocar comida na mesa, teria que realmente trabalhar duro para
isso", disse ao jornal Washington Post, em referência aos tempos em que não
era fácil encontrar a quantidade de alimentos necessária para equilibrar o
volume de calorias queimadas quando se saía à caça.
Lieberman explicou que a vida moderna não demanda o mesmo
esforço físico, já que a tecnologia e as máquinas facilitam nossa vida. Mas
"herdamos os instintos" de repousar quando não é necessário estar em
movimento.
No entanto, na mesma reportagem, o professor Bradley
Cardinal, especialista em aspectos sociculturais da atividade física na
Universidade de Oregon, afirma não acreditar que tudo se resuma ao aspecto biológico.
Para ele, há uma questão social que exerce efeito negativo nas pessoas.
Ele se refere ao fato de que em muitos círculos sociais da
vida, ser sedentário é algo reprovável, o que por sua vez faz com que ir à
academia se torne uma tarefa a ser cumprida, e não uma questão de bem-estar.
Segundo esse raciocínio, se as pessoas simplesmente aceitassem que a vontade de
não praticar exercício é algo natural, talvez conseguissem desvincular a prática
esportiva dessas associações negativas.
Zona de conforto
Para Sherry Pagoto, professora de Medicina da Universidade
de Massachusetts, em artigo publicado no portal Psychology Today, o mais difícil
é conseguir superar a "rejeição psicológica" resultante de situações
desconfortáveis vividas na própria experiência do exercício físico.
Suor, falta de ar e dores musculares são elementos que ficam
constantemente na cabeça dessas pessoas, que em geral acabam entrando em um
"conflito existencial" entre agradar a si mesmas ou fazer a vontade
das pessoas.
Pagoto considera que o desconforto com essas situações seja
algo temporário, e que o corpo humano se adapta às novas experiências, abrindo
um leque de novas possibilidades e recompensas. Para ela, também é importante
entender a realidade que cada pessoa vive.
"Se você nunca viu ninguém da sua família ou de seu
entorno praticar esporte ou fazer exercício físico, vai ser difícil você se
sentir propenso a praticar. Se for o contrário, é comum a criança incorporar
isso como algo implícito para o resto de sua vida".
Outro fator determinante é a motivação, afirma o
especialista.
"As pessoas querem resultados rápidos porque associam a
prática do exercício a um sofrimento ou sacrifício que requer muita vontade e
disciplina. Se não veem a recompensa, o que sobram são as dúvidas e
questionamentos sobre se o esforço vale a pena."
Segundo o preparador físico espanhol, o mais recomendável é
entender que se trata de um processo lento, que requer vontade e dedicação, mas
que a recompensa vem com o tempo.
Ele ressalta que é importante aceitar também que algumas
pessoas são simplesmente mais preguiçosas por natureza, enquanto outras são
mais ativas.