Publicado em 01/08/2017
Da invasão olímpica a quartos vazios: crise e insegurança afastam turistas e levam hotéis a bloqueio de andares
Em julho, temporada de férias, ocupação média foi de 40% no Rio. Para cada aumento de 10% na criminalidade, a receita de empresas da atividade turística cai, em média, 1,8%, aponta CNC.
Vista aérea da Barra da Tijuca.
Um ano depois de ter sido o coração dos Jogos Olímpicos, a
Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, enfrenta um outro desafio: ser um novo
destino turístico da cidade e, dessa forma, ocupar os quartos ociosos dos hotéis
construídos no bairro.
A crise está levando os hotéis, muitos deles de redes
internacionais, a bloquear andares, fechar quartos e reduzir o número de
funcionários e atividades para diminuir o prejuízo.
Até 2010, a Barra da Tijuca tinha 3 mil e 500 quartos de hotéis
e foram construídos mais 10 mil e 500 para receber hóspedes para a Olimpíada.
Além deles, quatro hotéis, no Centro e em Botafogo, na Zona
Sul, fecharam suas portas desde o ano passado. Quem trabalha com turismo relata
o desespero de ver uma das crises mais profundas do estado acabar com sonhos.
Parque Olímpico seis meses após realização dos Jogos Olímpicos.
"Hotéis de maior porte principalmente na área da Barra
da Tijuca, que tem 500 quartos, bloqueiam dois andares e funcionam com três.
Como a ocupação está baixa, você pode funcionar com dois andares, ao invés de
cinco, e com isso você tem um número menor na sua brigada de colaboradores. Você
tem que fazer algumas adequações que significam cortes em determinadas brigadas
para poder ter um ponto de equilíbrio mais abaixo para sobreviver", afirma
Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira dos Hotéis do Estado do Rio
de Janeiro (ABIH-RJ).
Segundo dados da instituição, a ocupação média dos estabelecimentos
no mês de julho, temporada de férias, chegou a 40%, o que é considerado muito
baixo pelo mercado da hotelaria.
Lopes afirmou que fechar quartos nos hotéis não é uma
alternativa normal nas grandes cidades e destinos turísticos famosos em todo o
mundo.
Euforia x prejuízo
No início de julho, a Confederação Nacional do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou que o aumento da violência fez o estado
do Rio perder R$ 320 milhões nas receitas com o turismo. O valor equivale a 42%
do total da perda do faturamento do setor (R$ 768,5 milhões) entre janeiro e
abril de 2017, em comparação com o mesmo período de 2016.
A CNC informa que, para cada aumento de 10% na criminalidade, a receita bruta das empresas que compõem a atividade turística do Estado recua, em média, 1,8%.
Os segmentos ligados ao turismo mais afetados são hospedagem
e transporte. A perda atribuída à violência em 2017 equivale ao faturamento de
4,5 dias do turismo na cidade.
Em entrevista ao G1, o consultor da HotelInvest, Pedro
Cypriano, disse que os projetos e investimentos pensados para a Barra da Tijuca
ocorreram em um momento de "euforia", com o país e o estado do Rio em
pleno auge econômico. De acordo com Cypriano, esse cenário mudou e a recuperação
será difícil enquanto a economia não decolar.