Publicado em 05/09/2017
Preço da gasolina aumenta mais de 10% apenas em cinco dias de setembro
Especialistas dizem que flutuação de preços causa instabilidade no mercado.
Preço de combustíveis em posto no Humaitá, zona sul do Rio.
RIO - O aumento nos preços da gasolina das refinarias, de 3,3%, anunciado pela Petrobras começa a valer nesta terça-feira. Em cinco dias, só no mês de setembro, foram três aumentos, somando 10,2% para a gasolina. Já no caso do diesel, a alta acumulada chega a 5,3%. A Petrobras informou que a política de preços da estatal para diesel e gasolina leva em consideração, entre outros fatores, o alinhamento com as cotações internacionais dessas commodities. E ressaltou que pode haver influência de eventos como a tempestade tropical Harvey, que levou à paralisação de refinarias no Texas.
A presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis,
Lubrificantes e Lojas de Conveniência do município do Rio, Maria Aparecida
Schneider, considera positiva a nova política de preços da Petrobras. Mas
observa que a flutuação dos preços causa certa instabilidade no mercado, já que
postos e distribuidoras estão trabalhando com estoques baixos devido à queda da
demanda. Segundo o sindicato, as vendas de combustível no Rio despencaram de
25% a 30%, contra 6,5% na média nacional. Em dois anos, aponta a entidade, o número
de postos registrados caiu de 903 para 700.
— Para nós (o aumento) é péssimo. Hoje, o repasse é quase
automático, por causa dos estoques muito baixos, que duram no máximo de dois a
três dias. Parece até que voltamos ao tempo da inflação. Operacionalmente, é
uma questão administrativa enlouquecedora, porque é preciso comprar mais caro e
depois repassar ao consumidor — disse Maria Aparecida.
Exatamente por causa da queda nas vendas, porém, os postos vêm
tentando segurar os reajustes, enquanto os estoques permitirem. A reportagem do
GLOBO esteve na segunda-feira, logo depois do anúncio, em seis postos de
gasolina, nas zonas Norte e Sul e no Centro. Apenas três elevaram os preços,
enquanto um manteve e dois registraram redução, em comparação à primeira semana
de agosto, após o anúncio do aumento do PIS/Cofins sobre combustíveis. Na
Lagoa, o posto Piraquê manteve o litro da gasolina em R$ 4,498. No posto
Petrobras Distribuidora em frente à Uerj, na Radial Oeste, os consumidores
passaram a economizar R$ 0,10: o litro saía a R$ 3,99. Já no posto Parque do
Flamengo, no Aterro, a redução foi de R$ 0,05, para R$ 4,39.
— Não tem como nós reajustarmos preços todos os dias. É
preciso esperar pelo menos uma ou duas semanas para repassar o ajuste ao
consumidor. E, enquanto isso, quem sofre somos nós — explicou Paulo Miranda
Soares, presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de
Lubrificantes.
Ele disse, ainda, que, como nem sempre as distribuidoras
acompanham as reduções de preço feitas pela Petrobras, os varejistas arcam com
os prejuízos, mas não com as benesses.
O maior preço encontrado foi na Zona Sul, junto ao Parque
dos Patins, na Lagoa: R$ 4,559 o litro da gasolina. Foi onde, por falta de opção,
o professor da PUC-Rio Marco Antônio Grivet abasteceu:
— Costumo abastecer em Botafogo, em um posto que cobra R$
3,80. É absurdo esse preço daqui, mas estou precisando.
E o novo reajuste não deve pesar apenas no bolso dos
motoristas. O economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) André Braz lembra que
a alta do diesel acaba afetando os valores do frete, o que se reflete nos preços
dos alimentos:
— A algum aumento o consumidor vai assistir ao longo do
tempo. O que a gente espera é que os ajustes constantes da Petrobras possam se
reverter em pressão inflacionária menor, já que os preços não ficam represados
para subir de uma vez.