Publicado em 20/02/2018

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Conflito armado no Afeganistão deixa 3,4 mil mortos e 7 mil feridos em 2017

Números são de relatório da ONU que alerta para a recorrência de ataques suicidas e para o uso de explosivos improvisados no Afeganistão. Documento atribui 399 mortes ao Estado Islâmico, também responsável pelo desaparecimento de 119 civis.


Família afegã na província de Badakhshan. Foto: UNAMA/Fardin Waezi


O conflito armado no Afeganistão deixou 3.438 pessoas mortas e outras 7 mil feridas em 2017, aponta o mais recente relatório da ONU sobre óbitos e agressões a civis no país. Elaborado pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) e pela Missão de Assistência da ONU no país, a UNAMA, levantamento alerta para a recorrência de ataques suicidas e para o uso de explosivos improvisados.


O número de mortos e feridos no ano passado — 10.453 afegãos — é 9% menor que o registrado em 2016, quando falecimentos e danos chegaram a níveis recordes. Os índices, porém, permanecem altos, na avaliação da ONU.


“Estou particularmente horrorizado com o uso ilegal, indiscriminado e continuado de explosivos improvisados por homens-bomba e com o uso de explosivos ativados por pressão em áreas habitadas por civis. Isso é vergonhoso”, criticou o chefe da UNAMA e enviado especial da ONU para o Afeganistão, Tadamichi Yamamoto. Ambas as táticas foram responsáveis por 40% das mortes e ferimentos entre civis.


A segunda principal causa de óbitos e agressões foram embates por terra entre forças pró-governo e grupos de oposição. Confrontos representaram 33% do total de fatalidades e ocorrências com civis. Quase dois terços desses episódios (65%) tiveram por autoria entidades anti-governo — 42% foram atribuídos ao Talibã, 10% ao Estado Islâmico e 13% a atores indeterminados e a outros movimentos contra as autoridades.


Militares a favor do governo respondem por 20% dos casos de morte e ferimento envolvendo civis em situações de conflito. Desses, 16% foram atribuídas às forças nacionais de segurança do Afeganistão e 2% a forças militares internacionais. O levantamento da ONU aponta ainda que o fogo-cruzado entre entidades combatentes foi responsável por 11% das mortes e agressões contra civis.


Mulheres e crianças em risco

Ainda segundo o relatório, mulheres e crianças continuam sendo duramente afetadas pela violência associada ao conflito armado. Em 2017, 359 afegãs foram mortas — número que representa um aumento de 5% — e 865 ficaram feridas. Também no ano passado, 861 crianças morreram e 2.318 sofreram agressões — índices que indicam uma redução de 10% na comparação com 2016.


Ataques em que grupos de oposição alvejaram civis deliberadamente foram responsáveis por 27% do total de óbitos e ferimentos em 2017. A maior parte desses casos envolveu operações suicidas e investidas complexas, direcionadas contra a população ou instalações civis.


O atentado mais fatal já documentado pela UNAMA, desde o início do acompanhamento da violência contra civis em 2009, aconteceu em 31 de maio do ano passado, quando um homem-bomba explodiu um caminhão com cerca de duas toneladas de explosivos. O ataque deixou 92 civis mortos e outros 491 feridos.


“Os civis afegãos têm morrido enquanto vivem sua rotina diária, pegando um ônibus, rezando numa mesquita ou simplesmente andando na frente de um prédio que se tornou alvo. O povo do Afeganistão, ano após ano, continua a viver em insegurança e medo, enquanto os responsáveis por acabar e arruinar com essas vidas escapam à punição”, condenou o alto-comissário da ONU para os direitos humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein.


“Tais ataques são proibidos de acordo com o direito internacional humanitário e, provavelmente, podem constituir crimes de guerra. Os autores têm de ser identificados e responsabilizados”, acrescentou o dirigente.


Forças internacionais e Estado Islâmico

O relatório atribui 399 mortes ao Estado Islâmico, também responsável pelo desaparecimento de 119 civis. “O grupo atacou principalmente civis em 2017, mas também conduziu ataques desproporcionais e indiscriminados contra forças de segurança em áreas civis”, explica o relatório.


Seis atentados realizados pelos terroristas deixaram 160 civis mortos em locais ou situações de culto — os alvos eram os centros de adoração, líderes religiosos ou os próprios fiéis.


A UNAMA e o ACNUDH apontam ainda que aumentou significativamente o volume de ataques aéreos por forças militares internacionais e afegãs. Em 2017, operações por ar deixaram 295 civis mortos e 336 feridos, índices que representam um aumento de 7% na comparação com 2016. Trata-se dos maiores números registrados desde 2009.


Outro problema que chamou a atenção da ONU foram os incidentes com explosivos remanescentes dos conflitos. Acidentes com esses materiais levaram a 164 mortes e 475 casos em que civis ficaram feridos. Oitenta e um porcento das vítimas eram crianças. Muitos dos sobreviventes perderam membros do corpo ou olhos, além de sofrerem trauma físico e psicológico.

nacoesunidas.org