Publicado em 16/10/2018
América Latina é a região com maior taxa de cesáreas do mundo
Brasil é o segundo país que mais realiza essa cirurgia, segundo estudo que recomenda esse tipo de parto somente em casos específicos.
A América Latina é a região com maior taxa de césareas
(44,3% dos nascimentos) do mundo, e o Brasil é o segundo país que mais realiza
esta cirurgia, segundo um estudo que alerta para a "epidemia" mundial
deste parto, recomendado apenas em casos específicos.
O número de nascimentos por cesárea no planeta praticamente
duplicou em 15 anos, de 12% para 21% entre 2000 e 2015, e superou os 40% em 15
países, a maioria da América Latina e do Caribe, indica o relatório publicado
nesta sexta-feira (12) na revista Lancet.
Atualmente, estima-se entre 10% e 15% a proporção de
cesáreas necessárias por motivos médicos. Contudo, 60% dos 169 países estudados
estão acima dessa faixa, e 25%, abaixo, de acordo com o estudo baseado em dados
da Organização Mundial da Saúde e da Unicef.
"O forte aumento de cesáreas - especialmente entre as
classes abastadas e sem motivos médicos - representam um problema devido aos
riscos associados para a mãe e o bebê", destaca a coordenadora do informe,
Marleen Temmermann, da Universidade Aga Khan, no Quênia, e da Universidade de
Gante, na Bélgica.
Embora as cesáreas salvem vidas e seu acesso deva ser
facilitados "para as mulheres de regiões pobres", este tipo de parto
apresenta também seus risco. Por isso, não se deve "abusar" deles,
segundo Temmermann.
República Dominicana e Brasil na liderança
As disparidades entre regiões são impressionante, vão de
4,1% dos partos na África subsariana a 44,3% na América Latina e no Caribe
(frente a 32,3% em 2000).
Na Ásia do Sul, as cesáreas aumentaram mais rapidamente que
em qualquer outra região, a uma média de 6% ao ano, disparando de 7,2% dos
nascimentos em 200 para 18,1% em 2015.
Na América da Norte, a taxa foi de 32%, e na Europa
ocidental, de 26,9%.
Por países, a República Dominicana é líder mundial neste tipo
de nascimentos (58,1%), seguida do Brasil (55,5%).
Entre os 15 primeiros também se destacam os seguintes países
latinos: Venezuela (52,4%), Chile (46%), Colômbia (45,9%), Paraguai (45,9%),
Equador (45,5%), México (40,7%) e Cuba (40,4%).
À revista Lancet, o Congresso Mundial de Ginecologia e
Obstetrícia, reunido no Brasil, atribui a "epidemia" de cesáreas à
existência de equipes médicas menos competentes para acompanhar os partos
normais difíceis, à comodidade de programar o dia do parto, aos maiores benefícios
econômicos para as clínicas, entre outros.
Gestações
de baixo risco no Brasil
O estudo
ainda constata uma ligação estreita entre as cirurgias e a faixa de renda e de
educação das mulheres.
No Brasil,
por exemplo, onde a maioria das cesáreas se dá em gestações de baixo risco,
54,4% deste tipo de partos são feitos em mulheres de nível educacional elevado,
frente a 19,4% de nível mais baixo.
As cesáreas
são indispensáveis quando se apresentam complicações, como hemorragias,
sofrimento fetal ou posição anormal do bebê, destaca o estudo.
Mas também
representam riscos como uma recuperação mais complicada para a mãe e problemas
nos partos seguintes (gravidez ectópica, desenvolvimento anormal da placenta,
entre outros).
O estudo
ainda destaca que estão surgindo provas de que os bebês nascidos por cesárea
não se expõem aos mesmos processos hormonais, físicos nem bacterianos que os
nascidos por parto normal - o que pode afetar sua saúde.
A fim de
limitar o excesso de cesáreas, o Congresso Mundial de Ginecologia recomenda por
exemplo aplicar uma tarifa única para todos os partos, obrigar hospitais a
publicar suas estatísticas, informar melhores as mulheres e melhorar a formação
para partos normais.